Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

27 novembro 2006

Mailling list

«— E tu, que tens feito, Jacinto?
«O meu amigo encolheu molemente os ombros. Vivera - cumprira com serenidade todas as funções, as que pertencem à matéria e as que pertencem ao espírito...
«— E acumulaste civilização, Jacinto! Santo Deus... Está tremendo, o 202!
«Ele espalhou em torno um olhar onde já não faiscava a antiga vivacidade:
«— Sim, há confortos... Mas falta muito! A humanidade ainda está mal apetrechada, Zé Fernandes... E a vida conserva resistências.
«Subitamente, a um canto, repicou a campainha do telefone. E enquanto o meu amigo, curvado sobre a placa, murmurava impaciente «Está lá? — Está lá?», examinei curiosamente, sobre a sua imensa mesa de trabalho, uma estranha e miúda legião de instrumentozinhos de níquel, de aço, de cobre, de ferro, com gumes, com argolas, com tenazes, com ganchos, com dentes, expressivos todos, de utilidades misteriosas. Tomei um que tentei manejar — e logo uma ponta malévola me picou um dedo. Nesse instante rompeu de outro canto um «tic-tic-tic» açodado, quase ansioso. Jacinto acudiu, com a face no telefone:
«— Vê aí o telégrafo!... Ao pé do divã. Uma tira de papel que deve estar a correr.
«E, com efeito, de uma redoma de vidro posta numa coluna, e contendo um aparelho esperto e diligente, escorria para o tapete, como uma ténia, a longa tira de papel com caracteres impressos, que eu, homem das serras, apanhei, maravilhado. A linha, traçada em azul, anunciava ao meu amigo Jacinto que a fragata russa Azoff entrara em Marselha com avaria!
«Já ele abandonara o telefone. Desejei saber, inquieto, se o prejudicava directamente aquela avaria da Azoff.
«— Da Azoff?... A avaria? A mim?... Não! É uma notícia.»

Obs.: Tinha-me esquecido de fazer a referência à fonte mas um leitor rapidamente identificou. Aqui fica a correcção: In: Queirós, Eça de - A Cidade e as Serras

1 comentário:

rps disse...

A Cidade e as Serras. O melhor EQ, logo a seguir aos Maias...