Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

26 março 2007

Ponta Delgada 202


202. Estou no quarto 202. Não podia ser mais apropriado para a bibliotecária da Biblioteca de Jacinto.


O meu baptismo de vôo não foi tão mau como eu esperava mas foi agradável voltar a pôr os pés no chão.

Depois de uns chicharros em versão gourmet no restaurante do hotel...


... e de uma cuidadosa análise do mapa...


... um passeio pela bela cidade...




... e pelas suas belas calçadas.















Tem estado frio!


Mas isso não nos impediu de ir hoje para o mar ver golfinhos e baleias.


Mostro amanhã, quando tiver passado as fotos.

21 março 2007

No dia mundial da poesia

Hoje, num estudo de piano que estava a catalogar, encontrei, no verso, manuscrita e assinada por um tal Álvaro José (que eu não faço ideia quem tenha sido) esta pérola de poesia:

«Vemos do Feminino damas feias e formozas e muitas vezes as feias ter açoens mais generozas; o mesmo estamos vendo nas mesmas aves do ar, humas valem [pelo] brilho e outras pelo seu cantar.»

Lembrei-me logo deste delicioso momento d'Os Maias:

«D. Ana, depois de bocejar de leve, retomou a sua ideia:
— Sem contar que o pequeno está muito atrasado. A não ser um bocado de inglês, não sabe nada... Não tem prenda nenhuma!
— Mas é muito esperto, minha rica senhora! — acudiu Vilaça.
— É possível — respondeu secamente a inteligente Silveira. E, voltando-se para o Eusebiozinho, que se conservava ao lado dela, quieto como se fosse de gesso:
— Ó filho, diz tu aqui ao Sr. Vilaça aqueles lindos versos que sabes... Não sejas atado, anda!... Vá, Eusébio, filho, sê bonito...
Mas o menino, molengão e tristonho, não se descolava das saias da titi: teve ela de o pôr de pé, ampará-lo, para que o tenro prodígio não aluísse sobre as perninhas flácidas; e a mamã prometeu-lhe que, se dissesse os versinhos, dormia essa noite com ela...
Isto decidiu-o: abriu a boca, e como de uma torneira lassa veio de lá escorrendo, num fio de voz, um recitativo lento e babujado:

É noite, o astro saudoso
Rompe a custo um plúmbeo céu,
Tolda-lhe o rosto formoso
Alvacento, húmido véu...


Disse-a toda — sem se mexer, com as mãozinhas pendentes, os olhos mortiços pregados na titi. A mamã fazia o compasso com a agulha do crochet; e a viscondessa, pouco a pouco, com um sorriso de quebranto, banhada no langor da melopeia, ia cerrando as pálpebras.
— Muito bem, muito bem! — exclamou o Vilaça, impressionado, quando o Eusebiozinho findou coberto de suor. — Que memória! Que memória!... É um prodígio!...»
(Queirós, Eça de - Os Maias)

Bach


Hoje, 21 de Março de 2007, passam 322 anos que nasceu Johann Sebastian Bach. Como é dia mundial da poesia e eu não sou poeta, prefiro nada dizer. Para mim, Bach é o maior génio da música de todos os tempos. Eu sei que pode parecer exagero quando temos Monteverdi, Mozart, Beethoven, Wagner... mas para mim é. Tenho dito.


Suite para violoncelo, n.º5 por Yo-Yo Ma e Tamasaburo

20 março 2007

Primavera

O equinócio é às 00h07 de dia 21. Esta noite começa a Primavera.

Açores, aí vou eu!


O Congresso da BAD entrou em contagem decrescente. Este ano é em Ponta Delgada.
E este ano, pela primeira vez, vou participar (e não apenas assistir). Como não há fome que não dê em fartura, vou participar duas vezes: com uma comunicação (de autoria colectiva) sobre o CEM e num painel sobre weblogues no domínio da Ciência da Informação.
Na comunicação, que tem o nome pomposo de «A experiência interdisciplinar no Centro de Estudos Musicológicos da Biblioteca Nacional», eu, a minha colega e a minha chefe no CEM expomos a nossa experiência pessoal e colectiva: mais do que uma "secção de partituras" o CEM é, na prática, uma biblioteca especializada em música e isso confere-lhe características muito particulares no âmbito da Biblioteca Nacional. Na nossa comunicação procuramos, de uma forma quase narrativa, descrever como funcionamos, como cruzamos experiências e conhecimentos (eu sou bibliotecária com formação elementar em música, elas são musicólogas com formação elementar em biblioteconomia) e como conseguimos que o resultado final do nosso trabalho seja maior do que a soma aritmética das partes.
No painel, organizado e coordenado pela Luísa Alvim, vou partilhar o debate com o Adalberto Barreto, o Paulo Jorge Sousa, o Júlio Anjos e o Pedro Príncipe. Já conheço todos da blogosfera mas só agora os irei conhecer pessoalmente.
Finalmente vou conhecer os Açores (no caso, a ilha de São Miguel), o que há muito tempo desejo mas nunca tinha tido a oportunidade. Já conheço razoavelmente Portugal continental (mesmo o mais profundo), esta será a minha primeira incursão pelo Portugal insular.


Last but not least, também é a primeira vez que vou andar de avião.
Ufa! Já não tenho idade para tantas emoções juntas!!!

14 março 2007

A banda sonora da minha vida

Tenho vindo a publicar aqui vários posts que vou agrupando na «banda sonora da minha vida». Mas já são tantos e já tenho tantos em reserva que devo aos visitantes da Biblioteca de Jacinto uma explicação: a banda sonora da minha vida não é apenas constituída pelas músicas de que mais gosto ou as músicas que mais me marcaram. Se me perguntassem por essas, eu não saberia apontá-las.
Há-que dizê-lo com frontalidade: a música é a minha vida, a minha respiração, a minha alma e o meu sangue. Não saberia viver sem música. A minha memória de passarinho para palavras, imagens, números e caras está toda, toda, toda ocupada com música. Música clássica, música pop, música tradicional, música medieval, música portuguesa, música francesa, música italiana, música de filmes, música de anúncios, música de séries, música boa e música má. Acumula-se na minha cabeça de uma forma desordenada, fixo-a toda, memorizo-a toda, nunca sei as letras, muitas vezes não sei quem a canta nem quem a toca, não fixo mais nada, fixo só a música. Música, música, música.
Nunca esqueço uma música, oiço uma brevíssima introdução, às vezes só um acorde, e sei a que música pertence. O meu aparelho auditivo tem uma ligação directa à minha alma: com cada música vem uma emoção, uma memória, um cheiro, um arrepio, um sopro. É pavloviano. É coisa de bicho.
Quando era pequena, morava num prediozinho de dois pisos, no Campo de Santana. A varanda da cozinha dava para uns quintais e, para esses quintais, davam as trazeiras de outros prédios. Lembro-me de virar um balde ao contrário e pôr-me em cima para chegar ao parapeito. Depois, abria os foles e cantava. Cantava a Habanera da Carmem, a Canção de Solveig, as canções dos Beatles, o que calhava. A minha mãe ouvia todos os dias a Antena 2 (na altura era a Emissora Nacional), principalmente os programas de ópera. Eu ouvia, fixava e vinha para a varanda cantar. Toda a vizinhança me conhecia.
Na escola, cantava durante as aulas porque me esquecia de que estava nas aulas. Os professores tinham de me mandar calar, aí eu acordava e dava mais cinco minutos de atenção à aula. Fui má aluna, claro. Ao 40 anos já não me importo de contar estas coisas porque já não me interessa nada o que podem pensar de mim mas, na infância, foi difícil viver com esta música toda dentro da cabeça, principalmente porque eu passava tardes a ouvir Haendel quando os outros ouviam Police e Ramones. E eu não tinha assunto de conversa.
Só comecei a interessar-me pela música "própria da minha idade" (seja lá o que isso fôr) no início da adolescência, mais ou menos na mesma altura em que comecei a interessar-me por rapazes. Mais uma vez, a música era uma obsessão. Gostava de músicas repetitivas cantadas por rapazes maquilhados e que dançavam com movimentos de ancas. Rapazes com ancas! Era a época dos telediscos (já não se chamam assim, acho eu), do "top ten" ao Domingo à tarde, que eu sorvia em frente à televisão para ver as ancas e os olhos azuis do Simon Le Bon, a poupa e os olhos castanhos do vocalista dos Spandau Ballet e o cabelo de vassoura e os olhos lânguidos de um escanzelado andrógino chamado Limhal que eu achava giríssimo porque nessa idade gostava de rapazes que fossem parecidos com brinquedos.
Depois fui para a faculdade. Corria o ano de 1984. Entrei muito nova, até ao fim da faculdade fui sempre a mais nova de todas as turmas onde estive. Achei, então, que estava na altura de me tornar mais séria e intelectual. Eu já estava na Universidade! Deixei de comprar a revista «Coquette» (que ensinava coisas inocentes como usar maquilhagem e falar com rapazes sem parecer que me estava a atirar) e voltei a gostar de música pela música. É dessa fase a minha descoberta da pop/rock dos anos 70 e do melhor que se fazia nos anos 80. Não me desinteressei dos rapazes mas foi nessa altura que descobri que os inteligentes era muito mais interessantes do que os estúpidos. É também dessa fase que tenho as mais doces recordações de adolescência. Sempre associadas a música. Tudo, sempre, indissociável da música.
Depois da faculdade, depois do vinte eum, vinte e dois anos, as coisas mudaram. Fiz outras "descobertas" musicais, muitas delas associadas a filmes e à minha própria pesquisa de coisas novas. Isso também está associado ao facto de eu ter começado a ter dinheiro para comprar discos.
Procuro, ainda hoje, não perder aquela inocência indispensável para que a música nos toque, nos marque, nos fira na alma. É isso que me permite, ainda hoje, ter músicas que entram para a banda sonora da minha vida. É isso que me permite que essa banda sonora tenha não meia-dúzia, não uma dúzia, mas largas dezenas ou até centenas de músicas.
E que aqui vos vou mostrando, como quem despe a alma.

Grande invenção!

É bem melhor do que alarme, não chateia ninguém (a não ser o ***** ** **** do ladrão) impede-o de roubar o carro e ainda o denuncia para quem está à volta. Fantástico! Quando é que isto chega cá?

13 março 2007

"Brideshead Revisited"

Imagem retirada daqui.

Acho que este blogue está a ter um efeito quase psicanalítico sobre mim. Está a ficar perigoso, já não tenho idade para tantas emoções.
Ao rebuscar as músicas que são a banda sonora da minha vida, algumas que não ouvia há muito tempo, acontecem coisas estranhas, emoções revividas com efeitos nem sempre previsíveis.
Há anos que não ouvia isto. Vindas do mais fundo do meu passado, de uma idade em que não percebemos nem um centésimo do que se passa dentro da nossa cabeça e das nossas emoções (em adultos percebemos, talvez, um décimo...), as memórias irrompem, como quando sentimos o cheiro de um lugar aonde nunca mais voltámos depois da infância.
Olfato e audição: os primeiros sentidos, os mais primitivos, os mais animais, os únicos capazes de fazer o curto-circuito entre o consciente e o inconsciente.


Tema de "Brideshead Revisited", por Geoffrey Burgon.

Fascinação

Ainda Elis. Obrigada à Teresa, visitante habitual da Biblioteca de Jacinto, por me ter indicado esta.



Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar
Tonto de emoção
Com sofreguidão mil venturas previ.

O teu corpo é luz, sedução,
Poema divino cheio de esplendor.
Teu sorriso prende
Inebria
Entontece
És fascinação, amor!

12 março 2007

Romaria

Não tenho palavras para falar de Elis Regina nem para explicar o quanto ela marcou a minha adolescência. Já escrevi e apaguei várias vezes este post. Decididamente, não consigo. Não tenho mesmo palavras. Fica a música e a presença.

Elis Regina - Romaria

É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu, perdido em pensamentos
sobre o meu cavalo
É de laço
e de nó
De gibeira
o jiló
Dessa vida
cumprida
a só.

Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
à custa de aventuras
Descasei
Joguei
Investi
Desisti
Se há sorte
Eu não sei
Nunca vi...

Sou caipira...

Me disseram, porém,
Que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece
paz nos desaventos

Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar
Meu olhar
Meu olhar

Sou caipira...

09 março 2007

O Sim ingénuo ?...

«Na votação do projecto de lei conjunto do PS, PCP, BE e Verdes na especialidade, deputados do PSD que apoiaram o "sim" no referendo de 11 de Fevereiro, como Ana Manso e Luís Campos Ferreira, declararam-se enganados pelos socialistas
Jornal de Notícias (9 Mar. 2007)

«[...] se as mulheres depois vão estar sujeitas a uma pré-avaliação, ou pré-consulta, como acontece na Alemanha, Suiça, Dinamarca, Bélgica, França... é uma questão da lei que vai ser aprovada. E acho que já ficou assente que é assim que vai ser. Aliás não passa pela cabeça de ninguém, inclusive da mulher e do médico, chegar lá e " vamos lá fazer o aborto? - Tá bom!". Não estupifiquem nem as mulheres nem os médicos
Eduardo Pinto Bernardo in: Pelo Sim

«Não se trata de liberalizar a IVG, mesmo que até às 10 semanas, mas de despenalizá-la e regulamentá-la. Caso o Sim vença, a posterior legislação deverá – e irá, certamente – incluir a obrigatoriedade de aconselhamento e reflexão
Tiago Mendes in: Diário Económico (7 Fev. 2007)

«Efectuar um aborto é algo que pode ter alguns efeitos a nível psicológico na mulher e algo que deve ser bem reflectido antes de ser feito. Portanto, considero que uma mulher, antes de fazer um aborto, deverá ter o apoio de um psicólogo...»
Miguel Duarte in: Movimento Liberal Social (30 jan. 2007)

«Ana Catarina Mendes explica que "deve ficar previsto na lei a necessidade de consultas pré e pós-IVG, bem como acompanhamento médico e psicológico". Acrescenta que terá também de ficar estipulado em lei "um período de reflexão curto" que permita à mulher que quiser fazer uma interrupção voluntária de gravidez uma "decisão que seja tomada de forma médica e socialmente esclarecida", à semelhança, segundo garante a deputada socialista, "das melhores práticas" impostas pelas leis da Alemanha e da França.»
In: Diário de Notícias (31 Jan. 2007)

«Só a legalização proporcionará condições para fazer acompanhar a decisão de abortar de um mecanismo obrigatório de reflexão da mulher que o pretenda fazer
Vital Moreira In: Aba da causa (11 Fev. 2007)

«Votamos SIM, porque ao despenalizar o aborto o Estado fica responsável pela saúde fisica e psicológica da mulher. E sendo assim a mulher fica mais protegida. Se não se pratica nenhuma ilicitude, se a prática for totalmente autorizada até às 10 semanas incumbe às instituições estatais zelar pelos melhores interesses da mulher e orientá-la, se ela precisar
Eduardo Pinto Bernardo e Duarte Oliveira Cadete In: Pelo Sim (9 Fev. 2007)

«Para que a IVG não se torne numa banalidade e ocorra um fenómeno de liberalização autêntica, defenderemos a criação de comissões médicas, compostas por vários especialistas que, de uma forma célere e equilibrada, possam acompanhar a mulher que pretende interromper a gravidez e quem lhe está mais chegado, nomeadamente o pai da criança
Eduardo Pinto Bernardo In: Pelo Sim (14 Nov. 2006)

«Voto "sim" por um motivo legível: numa controvérsia tão difícil e irresolúvel como a do aborto, o "sim" alarga as nossas possibilidades de resposta aos problemas que o aborto coloca, o "não" fecha essas possibilidades. [...] O "sim" permite-nos defender que, sem punição penal para as mulheres que abortem até às dez semanas, o Estado não pode deixar de desmotivar o recurso ao aborto através de centros de aconselhamento e de outros mecanismos de informação e defesa da vida
Pedro Lomba In: DN (27 Jan. 2007)

«Despenalizar o aborto não é abrir uma porta à sua banalização. São agora necessárias medidas de acompanhamento familiar e de prevenção do aborto. O aborto, apesar de legal até às dez semanas de gravidez, não deixará de ser visto como último recurso, exigindo-se, cada vez mais, mais e melhores medidas de informação sobre os métodos anti-concepcionais. Não queremos mais mulheres criminosas, foi isso que ficou claro, mas também exigimos mulheres mais conscientes e informadas.
O combate do aborto começa agora.»
João Ferreira Dias In: Kontrastes (12 Fev. 2007)

«Onde, senão ali, pode a mulher encontrar pessoas habilitadas para falar do que se passa com ela, aconselhar-se sem receio de pressões, culpas e falatório, perceber todas as consequências da sua decisão?»
Manuela de Melo In: Movimento Voto Sim (7 Fev. 2007)

«Uma consulta para aborto no hospital pode ser a oportunidade para propor a contracepção a mulheres que não a utilizavam, pode permitir explicar que é possível levar a gravidez a termo e entregar um bebé para adopção, pode ajudar as mulheres a escolher o que verdadeiramente querem, e a apoiá-las nessa escolha
José Vítor Malheiros In: Público (6 fev. 2007)

«Voto sim, para que as mulheres que queiram interromper uma gravidez até às dez semanas possam ser aconselhadas por técnicos de saúde que as ajudem a ponderar a sua decisão
Maria Manuela Augusto In: Movimento Voto Sim (3 Fev. 2007)

08 março 2007

A lei da vida (2)

O conto de Jack London é tão triste quanto belo. Mas não consigo deixar de pensar nisto: parece que a nossa civilizadíssima humanidade ocidental já esteve mais longe de fazer isto com os idosos. Pelo menos já ninguém se coibe de falar deles como um fardo pesado para a sociedade. A retórica do pragmatismo domina os discursos e é terrivelmente convincente. Começa nas questões puramente económicas como o emprego ou a reforma, passa depois às questões pseudo-humanitárias, como o aborto clandestino e chegará à eutanásia. Na Holanda este percurso já está bastante mais adiantado. É o progresso, dizem: se isto é progresso eu sou reaccionária. É moderno e inteligente: então eu prefiro ser antiquada e obtusa. É o futuro: então eu sou conservadora. Uma conservadora reaccionária e antiquada. Quem diria, logo eu!...
Já há quem escreva para quem quiser ler - étonner le bourgeois, pois então - que o conceito de "direito à vida" - consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem - é uma aberração socialista. Suponho que a liberdade de pensamento e de expressão - consagrados na mesma Declaração e graças à qual quem diz estas coisas não vai preso - também seja uma "aberração socialista"...
Não tenho dúvidas de que os conceitos derivados dos ideais da Revolução Francesa, com os quais ainda me formei (pobre ingénua!) - a liberdade individual e dos povos, a igualdade de oportunidades, a solidariedade, a justiça social, a responsabilidade colectiva, o direito à busca da felicidade, o direito à fruição da natureza e da cultura, o respeito pela diferença, a protecção aos mais fracos - não tenho dúvidas de que têm os dias contados. Nada disto é pragmático, nada disto é realista. Pragmático é mandar para a miséria 600 famílias porque a dez mil quilómetros de distância há um país (muito mais evoluído, claro) onde outras famílias trabalham o dobro por um décimo do ordenado. Realista é ver que não há dinheiro suficiente para pagar reformas a pessoas que têm o desplante e o mau gosto de esperar viver até aos 85 anos e não fazer nada para resolver isso. Pragmático é pagar o aborto a uma mulher pobre em vez de lhe proporcionar condições para criar todos os filhos que ela quiser ter. Muito pouco realista seria punir o patrão que a ameaçou de despedimento se engravidasse.

Sei que a minha velhice já não será como a dos meus pais, a dos meus sogros ou a dos pais dos meus amigos. A menos que consiga juntar muito dinheiro para me sustentar numa solidão mais ou menos opulenta, a mudança da mentalidade que já está em curso irá lançar-me a mim e a toda a minha geração, aos lobos de uma eutanásia passiva (ou activa).
Pelo menos, os esquimós eram menos hipócritas.

07 março 2007

If you don't know me by now

Simply Red - If you don't know me by now

If you dont know me by now
You will never never never know me

All the things that weve been through
You should understand me like I understand you
Now girl I know the difference between right and wrong
I aint gonna do nothing to break up our happy home
Oh dont get so excited when I come home a little late at night
Cos we only act like children when we argue fuss and fight

If you dont know me by now (if you dont know me)
You will never never never know me (no you wont)
If you dont know me by now
You will never never never know me

Weve all got our own funny moods
Ive got mine, woman youve got yours too
Just trust in me like I trust in you
As long as weve been together it should be so easy to do
Just get yourself together or we might as well say goodbye
What good is a love affair when you cant see eye to eye, oh

If you dont know me by now (if you dont know me)
You will never never never know me (no you wont)
If you dont know me by now (you will never never never know me)
You will never never never know me (ooh)

06 março 2007

"A lei da vida" (Jack London)

«O velho Koskoosh escutava com ansiedade. Embora a vista lhe tivesse há muito enfraquecido, o seu ouvido era muito sensível e o mínimo som penetrava na inteligência viva que ainda habitava aquela testa enrugada, mas que já não olhava as coisas do mundo. Ah! Aquilo era a Sitcum-to-ha a praguejar contra os cães enquanto lhes batia para lhes pôr os arreios. Sitcum-to-ha, era a filha da sua filha, mas andava demasiado ocupada para perder tempo com o avô doente, ali sozinho, sentado na neve, desamparado e abandonado. O acampamento já devia estar desfeito. O longo trilho esperava, enquanto o curto dia se recusava a deter-se. A vida chamava-a, as obrigações da vida, não as da morte. E ele estava já muito perto da morte.
«Esta ideia fez com que o velho ficasse em pânico, e estendeu a mão entrevada, que vagueou trémula sobre o monte de lenha seca a seu lado. Depois de se assegurar de que a lenha lá estava realmente, a mão voltou a refugiar-se nas suas peles miseráveis, e ele pôs-se de novo à escuta. O monótono estalar das peles meio geladas dizia-lhe que a cabana de pele de alce do chefe já tinha sido desarmada e nesse preciso momento estava a ser reduzida a um volume de tamanho transportável. O chefe era o seu filho, forte e resoluto, chefe da tribo e grande caçador. Enquanto as mulheres se afadigavam com as bagagens do acampamento, a voz dele elevou-se a ralhar-lhes pela sua lentidão. O velho Koskoosh apurou o ouvido. Lá foi a tenda do Geehow! E a do Tusken! Sete, oito, nove; só a do feiticeiro estava ainda de pé. Lá vai ela! Estavam agora a tratar dela. Estava a ouvir o feiticeiro a resmungar enquanto a empilhava no trenó. Uma criança choramingava e uma mulher acalmava-a com um cantado sussurro gutural. É o pequeno Kootee, pensou o velho, uma criança rabugenta e não muito robusta. Ia morrer em breve, talvez, e eles iam cavar um buraco na tundra gelada e empilhar umas pedras por cima para afastar os lobos. Bem, e que importava isso? Alguns anos apenas na melhor das hipóteses, para fortes e fracos. E no fim a Morte esperava, a eterna faminta, a mais faminta de todos.
O que foi aquilo? Oh, eram os homens com os chicotes nos trenós, e a apertarem as correias. Escutou, e fê-lo pela última vez. Os chicotes estalavam sobre os cães. Ouçam como eles ganem! Como eles odeiam o trabalho e o trilho! Partiram! Trenó atrás de trenó, foram todos deslizando no meio daquela agitação, sumindo-se depois no silêncio. Foram-se. Desapareceram da sua vida, e ele enfrentava sozinho o amargor da última hora. Não. A neve rangeu sob uma bota; estava ali um homem a seu lado; uma mão pousou-lhe delicadamente sobre a cabeça. Era bom o filho ter-lhe feito aquilo. Lembrava-se de outros velhos cujos filhos não tinham esperado. Mas o seu filho tinha. E vagueou pelo passado até que a voz do filho o fez regressar.
«— Está tudo bem consigo? — perguntou.
«E o velho respondeu:
«— Tudo bem, sim.
«— Está aí lenha ao pé de si — continuou o jovem — e a fogueira está a arder bem. A manhã está cinzenta, e o frio abrandou. Vai nevar daqui a pouco. Já está mesmo a nevar.
«— Sim, já está a nevar.
«— Os homens estão com pressa. Os fardos estão pesados e eles de barriga vazia por falta de refeição. O caminho é longo e eles andam depressa. Agora vou-me embora. Está bem?
«— Está bem. Sou como uma folha velha, presa ao caule por um fio. Ao primeiro sopro, caio. A minha voz ficou como a de uma velha. Os olhos já não me mostram o caminho, e os meus pés estão pesados, e eu estou cansado. Está bem.
«Satisfeito, baixou a cabeça até o último gemido da neve se extinguir, sabendo agora que o filho já não tinha regresso. Então a mão estendeu-se apressada para a lenha. Só aquela lenha o separava da eternidade que lhe escancarava as portas. Finalmente a sua vida era do tamanho de uma braçada de lenha. As cavacas, uma a uma, iriam alimentar o fogo, e, exactamente no mesmo ritmo, passo a passo, viria a morte a rastejar ter com ele. Depois da última cavaca ter fornecido o seu calor, o gelo começaria a ganhar forças. Primeiro seriam os pés, depois as mãos; depois, o torpor avançaria lentamente das extremidades para o resto do corpo. A cabeça cairia sobre os joelhos e ele ficaria em paz. Era fácil. Todos os homens têm de morrer.
«Não se queixava. Era a vida, e estava certo. Ele nascera junto da terra, e junto da terra vivera, e a lei da terra não era novidade para ele. Era a lei de toda a carne. A Natureza não era amável para com a carne. Para ela aquela coisa concreta chamada indivíduo não era importante. O que lhe importava era a espécie, a raça. Este foi o conceito abstracto mais profundo a que o espírito bárbaro de Koskoosh conseguiu chegar, e agarrou-o com força. Viu-o exemplificado em toda a vida. A subida da seiva, o verde rebentar do botão de salgueiro, a queda da folha amarela — nisto apenas, estava escrita toda a história. Mas de uma missão incumbiu a Natureza o indivíduo. Se não a cumprisse, morria. Mas se a cumprisse, morria também. Isso, para a Natureza, não era importante; eram muitos os que lhe obedeciam, mas, neste caso, era apenas a obediência, e não o obediente, que vivia, e vivia sempre. A tribo de Koskoosh era muito antiga. Os velhos que ele conhecera quando ainda rapaz, já tinham conhecido outros velhos antes deles. Portanto era verdade que a tribo vivia, que ela representava a obediência ao longos dos séculos dos séculos de todos os seus membros, de cujas sepulturas já nem havia memória. Estes não contavam, eram apenas episódios. Tinham desaparecido como as nuvens de um céu de verão. E ele era também um simples episódio e ia também desaparecer. A Natureza não se importava com isso. Estabelecia uma missão para a vida, e uma lei. Perpetuar era a missão da vida, e a lei, a morte. Uma virgem era uma criatura boa de se ver, de seios cheios e rijos, com a primavera no andar e a luz nos olhos. Mas a sua missão estava ainda por cumprir. O brilho do olhar aumentava, o andar acelerava e começava a ser ora atrevida ora tímida com os rapazes, e transmitia-lhes a sua própria inquietação. E ficava cada vez mais bonita, cada vez mais bela de olhar, até que um qualquer caçador, incapaz já de ser conter, a leva para a sua tenda para cozinhar e trabalhar para ele e para se tornar a mãe dos seus filhos. E com a vinda dos filhos, vai-se a beleza. Braços e pernas ficam lentos e arrastados, os olhos esmorecem, e só os filhos encontram alegria na cara enrugada daquela squaw junto da fogueira. A sua missão estava cumprida. E dentro em pouco, no primeiro aperto de uma fome, ou na primeira grande migração, ela será abandonada, mesmo como ele fora, na neve, com um montinho de lenha junto dela. Esta era a lei.
«Pôs uma cavaca na fogueira e retomou a sua meditação. Era o mesmo em toda a parte e com todas as coisas. Os mosquitos desapareciam com os primeiros gelos. Os pequenos esquilos fugiam a rastejar para morrer. O coelho, quando a velhice chegava, tornava-se vagaroso e já não conseguia bater os inimigos em corrida. Até a grande águia se tornava desajeitada, cega e quezilenta, para depois acabar por ser apanhada e arrastada por meia dúzia de cães a latir. Ele lembrava-se bem de como também tinha abandonado o pai num campo junto do Klondyke, um inverno, o inverno antes da vinda do missionário com os seus livros e a sua caixa de remédios. Muitas vezes tinha ele, Koskoosh, lambido os beiços só de se lembrar daquela caixa, embora agora a boca já se lhe recusasse a salivar. O “tira-dores” em especial era muito bom. Mas aquele missionário, acabou por ser um problema, porque não trazia carne e comia com todo o apetite, e os caçadores começaram a resmungar. Mas acabou por morrer nas montanhas do Mayo e depois os cães farejaram-no, afastaram as pedras e engalfinharam-se em luta pelos ossos.
«Koskoosh pôs outra cavaca na fogueira e voltou a repisar no passado. Foi no tempo da Grande Fome, quando os homens se acocoravam de barriga vazia à volta da fogueira, quando narravam tradições já esbatidas dos velhos tempos em que as águas do Yukon corriam livremente durante três invernos e depois ficavam geladas durante três verões. Ele perdera a mãe nessa fome. No verão o salmão não aparecera e a tribo ansiava pelo inverno e pela chegada do caribu. Depois veio o inverno, mas sem caribu. Ninguém se lembrava de uma coisa assim, nem mesmo os velhos. E o caribu não veio, e já era o sétimo inverno assim, e os coelhos não se tinham reproduzido e os cães eram apenas montes de ossos. E na escuridão das longas noites as crianças gemiam e morriam, e as mulheres e os velhos; e na tribo, nem um em cada dez viveu para ver chegar o sol, quando ele voltou na primavera. Aquilo é que foi uma fome!
«Mas também vivera tempos de abundância, quando a carne se chegava a estragar, e os cães andavam gordos e malandros de tanto comer—tempos em que eles até deixavam caça por matar e as mulheres eram férteis e nas tendas era uma algazarra de filhos e filhas por ali estendidos. Depois eram os homens bem comidos que reviviam velhas querelas e atravessavam as montanhas para sul, para matar os Pellys, e para oeste para se sentarem junto das fogueiras extintas dos Tananas. Lembrava-se, quando ainda rapaz, durante um período de abundância, de ver um alce americano arrastado pelos lobos. Zing-ha estava com ele, e estavam os dois deitados na neve a observar — Zing-ha, que mais tarde se veio a tornar no mais astuto dos caçadores, e que acabou por cair num poço de ar no Yukon. Encontraram-no, um mês depois, na posição em que tinha ficado, meio de fora e completamente gelado.
«Mas, voltando ao alce. Ele e Zing-ha tinham ido brincar aos caçadores, imitando o que os pais faziam. No leito do ribeiro viram o rasto de alce e junto dele também as pegadas de muitos lobos. «É velho,» disse Zing-ha, que era mais rápido a ler os sinais. «É um alce velho que não conseguiu acompanhar a manada. Os lobos cortaram-lhe o contacto com os irmãos e nunca mais o deixaram.» E foi mesmo assim. Era assim que eles faziam. Noite e dia, sem parar, a latir na sua peugada, a tentar abocanhá-lo no focinho, continuaram sempre atrás dele até ao fim. Como o sangue os espicaçou, a ele e a Zing-ha! O final foi uma coisa digna de se ver!
«Movidos pela avidez, seguiram o rasto, e até ele, Koskoosh, observador lento e não versado em rastos, seria capaz de o seguir de olhos fechados, tão largo ele era. E que quentes eles iam na peugada da caçada, a ler a cada passo a triste tragédia acabada de escrever. E agora chegavam a um ponto onde o alce tinha feito uma pausa. A neve tinha sido remexida numa extensão de três vezes o comprimento de um homem. No meio estavam as marcas fundas dos cascos chatos da presa e à volta, por toda a parte, viam-se as marcas mais leves das patas dos lobos. Alguns, enquanto os seus irmãos se atiravam para a matança, deitaram-se de lado a descansar. As marcas dos corpos eram tão perfeitas como se tivessem sido deixadas um instante antes. Um dos lobos tinha sido apanhado por uma investida desordenada da vítima enlouquecida e morrera esmagado. Alguns ossos, bem descarnados, testemunhavam-no.
«Mais adiante, outra pausa na corrida. E aqui o grande animal lutou desesperadamente. Fora arrastado para o chão por duas vezes, como mostrava a neve, e por duas vezes tinha ele escapado dos assaltantes e recuperado a posição normal. Ele já tinha cumprido há muito a sua missão, mas continuava, mesmo assim, agarrado à vida. Zing-ha disse que era uma coisa estranha, um alce derrubado libertar-se outra vez; mas este tinha-o conseguido. O feiticeiro, quando eles lhe contaram, viu nisto presságios e milagres.
«E, contudo, eles chegaram a um sítio onde o alce conseguira trepar a margem e alcançar a floresta. Mas os seu inimigos atacaram-no por trás até que ele recuou e caiu sobre eles, esmagando dois contra a neve. Era evidente que a matança estava próxima, pois os seus irmãos tinham-nos deixado ficar. Passaram por mais duas paragens, curtas no tempo, mas muito próximas. O trilho agora estava vermelho e a passada do grande animal ficara mais curta e desordenada. Ouviram então os primeiros ruídos da batalha — não o coro da caçada, mas o ladrar curto e animado que anunciava proximidade e dentes na carne. Zing-ha deu a volta a rastejar pela neve, e com ele o próprio Koskoosh, que viria a ser o chefe da tribo uns anos mais tarde. Juntos, afastaram os ramos de um abeto jovem e espreitaram. E foi o final que eles viram.
«Aquela imagem, como todas as impressões da juventude, ainda estava muito nítida, e os seus olhos esmorecidos observavam ainda aquele final representado tão claramente como nesses tempos já tão longínquos. Koskoosh ficou maravilhado com aquilo, porque tempos depois, quando ele era condutor de homens e chefe de conselheiros, cometeu muitas proezas e tornou-se um nome amaldiçoado entre os Pellys, para não falar daquele homem branco desconhecido que ele tinha matado em luta aberta, punhal contra punhal.
«Pensou durante muito tempo nos seus tempos de juventude até que a fogueira começou a esmorecer e o gelo a apertar. Atiçou-a com duas cavacas desta vez e avaliou o seu tempo de vida pelas que restavam. Se ao menos Sit-cum-to-ha se tivesse lembrado do avô e lhe tivesse deixado uma braçada maior, as suas horas teriam sido mais longas. Teria sido fácil. Mas ela foi sempre muito descuidada e deixara de honrar os seus antepassados desde a primeira vez que o Beaver, filho do filho de Zing-ha, lhe pôs os olhos em cima. Bem, e que importava isso? Não tinha ele feito a mesma coisa no seu tempo de juventude? Por momentos ficou a escutar o silêncio. Talvez o seu filho se apiedasse e voltasse com os cães para levar o velho pai com a tribo para onde havia muitos caribus e a gordura escorria grossa sobre eles.
«Apurou o ouvido, parado o inquieto cérebro por momentos. Não havia a mínima agitação, nada. Só ele respirava no meio daquele enorme silêncio. Era uma grande solidão. Ouve! O que foi aquilo? Um calafrio percorreu-lhe o corpo. Um prolongado uivo muito familiar encheu o silêncio, e foi ali muito perto. Então, nos seus olhos escurecidos projectou-se a imagem do alce — o velho alce-boi — flancos rasgados e lombos ensanguentados, a juba grossa, os grandes cornos ramificados, prostrado, a debater-se até ao fim. Viu aquelas formas cinzentas cintilantes, olhos a brilhar, línguas pendentes, presas babadas. E viu o inexorável círculo fechar-se até se tornar um ponto negro no meio da neve revolta.
«Um focinho frio tocou-lhe na cara, e ao seu toque o espírito saltou-lhe de volta para o presente. A mão disparou em direcção à fogueira e puxou um tição a arder. Dominado desta vez pelo hereditário medo do homem, o animal recuou, soltando um prolongado uivo a chamar os irmãos; e eles, cobiçosos, responderam, e por fim um círculo de lobos de mandíbulas babadas agachou-se à sua volta. O velho ouviu o círculo a fechar-se. Brandiu desordenadamente o tição, e o farejar deu lugar ao rosnar; mas os animais ofegantes recusavam debandar. E então um deles aproximou-se a rastejar, seguido de outro e depois de um terceiro; e não mais recuaram. Por que é que ele se havia de agarrar à vida? perguntou, e deixou cair o tição na neve. Este crepitou e apagou-se. O círculo rosnou inquieto, mas manteve-se firme. E Koskoosh viu de novo o velho alce-boi na sua última paragem; deixou pender a cabeça gasta sobre os joelhos. Que importava? Não era aquilo, afinal, a lei da vida?»

(London, Jack - A lei da vida. Trad. Luís Varela Pinto. Tít. original: The Law of Life. In: Selected northland tales. Oxford: Oxford University Press, 1996)

03 março 2007

Albrecht Dürer

Uma faceta menos conhecida - rectifico, menos conhecida por mim - do jovem Albrecht Dürer (nesta altura, com 25 anos) - que eu conhecia mais pela pintura sacra e pela gravura (maravilhosa, diga-se de passagem) e que aqui partilho com os visitantes d'A biblioteca de Jacinto.

DÜRER, Albrecht, 1471-1528 - A casa do lago (1496)

02 março 2007

O quadrante político

O Political Compass (a que o Público chamou Bússula política) é um curioso gráfico que posiciona politicamente as pessoas de acordo com critérios diferentes dos tradicionais direita/esquerda. Já existe há bastante tempo mas lembrei-me de o trazer aqui hoje, já vão perceber porquê.

Mediante um questionário, vamos respondendo as várias questões relacionadas com a forma como encaramos diversos aspecto da organização da sociedade, da liberdade e da educação. Essas respostas são depois tratadas pelo sistema e o resultado situa-nos num quadrante político. A avaliação é curiosa: nos extremos da linha vertical estão as posições autoritária ou libertária (com todas as posições intermédias); nos extremos da linha horizontal, estão as posições colectivista e neo-liberal (ou individualista?) também com as suas posições intermédias.
É uma abordagem curiosa embora o questionário não seja, ele mesmo, imparcial. Pressupor que uma determinada resposta nos coloca, necessariamente, numa determinada posição do quadrante pode ser abusivo. O questionário reflecte uma visão demasiado "americana" do mundo. Mas não deixa de ser interessante responder, para ver o que dá. Quanto mais não seja para vermos com que figura histórica partilhamos o quadrante em que nos posicionam...



A versão do Público é esta:



Ainda no Público, a posição de diferentes líderes mundiais está representada assim:



Mas mais engraçado ainda - e é por isso que faço este post - é ver a análise que eles fizeram - no Political Compass, não no Público - à posição de diversos compositores. Não foram os próprios compositores que responderam, claro, por isso isto talvez diga mais sobre o que os autores do Political Compass pensam dos compositores do que o que pensavam os próprios compositores sobre política. Mas tem piada ver o resultado (clicando na imagem vê-se melhor).