Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

29 setembro 2008

25 setembro 2008

Modernices de linguagem: Mandatório

"Mandatório" (do inglês mandatory) em vez de imperativo ou obrigatório. Este caso é mais grave, uma vez que "mandatório" nem sequer existe em português (vd. Houaiss).

24 setembro 2008

Sósias

Os testes que se fazem na Internet não param de me surpreender. A minha mais recente descoberta é um teste para descobrir sósias que dá resultados, no mínimo, estranhos. Depois de descobrir que, se fosse uma personagem de desenhos animados, seria a abelha Maia, venho agora a descobrir que sou sósia de... Benjamin Britten! E como se não bastasse para destruír a minha auto-estima, as alternativas são um bébé e três tipos com caras de parvos difíceis de superar. Acho que sou mais parecida com a Whoopi Goldberg. Ao menos é mulher.




Espero que não usem um programa destes para identificar criminosos...

23 setembro 2008

O casamento

O casamento civil devia acabar. É anacrónico.
Mas, já que querem que exista, ou o mantêm nos moldes da tradição ocidental (heterossexual e monogâmico) ou então legalizem o casamento entre quem quiser, sem limites: homossexual, poligâmico, poliândrico e outras modalidades a inventar ou a redescobrir.
Ou há moralidade ou comem todos.

19 setembro 2008

2º aniversário

Há precisamente um ano escrevia aqui que, pelo caminho, ficavam 242 posts e novos amigos esperando que na paz estirada das suas poltronas encontrassem sempre os seus visitantes motivos para quererem voltar.
Como o demonstra a frieza da estatística (69 posts, apenas), este 2º ano d'A biblioteca de Jacinto, que ontem acabou, não foi um ano feliz para a bibliotecária de Jacinto. Assim quis o Eterno, na sua ininteligível sabedoria.

A irreversibilidade da morte é um problema existencial terrível. Neste mundo em que estamos habituados a lidar com máquinas que se arranjam ou se substituem, com computadores que "cracham" mas que nós desligamos e voltamos a ligar, em que quase tudo é descartável ou reciclável (até a gravidez!), em que a mortalidade infantil é residual, em que quase todas as doenças têm prevenção ou cura e a longevidade é expectável, não estamos minimamente preparados para lidar com a morte. Faltam-nos os anticorpos que os nossos antepassados (mesmo os mais próximos) desenvolviam desde crianças, habituados a ficar órfãos cedo, a verem os irmãos morrerem à nascença ou com poucos anos de vida. Ainda bem, claro, dispensamos esses anticorpos mas depois, quando a morte nos atinge de perto, estamos muito mais vulneráveis.

Ao contrário do que pensamos quando somos jovens, não é com a idade que envelhecemos. É com a perda. Por isso (e não por causa da medicina ou da cosmética) se envelhecia mais cedo antigamente do que hoje.
De um dia para o outro envelheci uns dez anos ou mais. Já não tenho aquele "farol" cuja luz eu sempre continuei a avistar, mesmo quando me lancei a navegar sozinha, no meu próprio barco, e deixei de ter vista de terra. Agora são as estrelas que me guiam.

Quanto a esta vossa biblioteca, sinto que há um qualquer laço invisível entre mim e aqueles que me lêem, entre a biblioteca de Jacinto e os seus visitantes, que me tem feito e, enquanto o quiser o Eterno, me fará continuar.

Obrigada a todos.

15 setembro 2008

Na batalha de La Albuera


Este fim-de-semana estive em La Albuera (Badajoz) a convite dos meus amigos "Voluntários Reais das Linhas de Torres" a participar da recriação histórica de um acampamento militar do período das invasões francesas.


A recriação foi uma iniciativa da "Asociación Napoleonica Batalla de La Albuera" e incluíu a montagem de um acampamento militar, barracas de artesãos e aulas de esgrima. Também pude ver armas da época ou réplicas exactas - magistralmente executadas por Henrique Silva, restaurador de armas antigas e Comandante dos "Voluntários Reais". É notável o rigor histórico com que são executados todos os pormenores dos trajos, do armamento e dos objectos do quotidiano.

















10 setembro 2008

A Setôra Susana

Penso muitas vezes em professores que tive, de quem gostei e com quem aprendi muito do que sei. Hoje, que se fala tanto mal e tanto bem dos professores, que se faz deles ora os culpados ora as vítimas do sistema, decidi que vou falar e deixar registadas para a posteridade as memórias dos meus professores do Externato Luís de Camões (que já não existe), na Avenida Almirante Reis, por cima da Pastelaria Delta.

Começo pela Setôra Susana. No meu tempo, ainda se estudava o francês como primeira língua estrangeira e a Dr.ª Susana foi a minha primeira professora de francês. Na altura achava-a velhíssima. Na verdade, talvez nem tivesse 60 anos. Recordo-a (com que rigor?) de cabelo completamente branco (ou seria grisalho?), ligeiramente anilado como as senhoras usavam nessa altura. Se tivesse 60 anos, teria mais 50 do que eu. Tinha, certamente, idade para ser minha avó. Se ainda viver, terá hoje uns 90 anos.

Os alunos não sabiam muito bem se haviam de gostar dela ou não. Eu gostava embora não o soubesse. Era uma mulher severa, conservadora, autoritária. Não temia pegar num rapagão de 15 anos pelas orelhas e arrastá-lo pelo corredor até ao gabinete do Director, se fosse preciso. O rapagão, claro, não se atrevia a reagir. Nessa altura, por volta de 1976, as coisas começavam a aquecer bastante e a rebeldia juvenil era uma novidade em Portugal. Ela não se deixava intimidar. Era uma excelente professora, gostava dos seus alunos, acho que quanto mais rebeldes mais ela gostava deles. Se hoje me prezo de bons conhecimentos de francês devo-o, em primeiro lugar, a ela.

Lembro-me, como se fosse ontem, dos sapatos dela, beiges, brancos, castanhos, pretos mas sempre do mesmo modelo muito antiquado (entretanto já voltaram a usar-se e já deixaram de se usar pelo menos duas vezes). Trazia as aulas preparadas num bloquinho pequeno, escrito com uma letra muito densa e que, afirmava-o com orgulho, nunca passava de um ano para o outro: «todos os anos preparo de novo as minhas aulas e tenho em casa todos os blocos de todos os anos». Perto de 40 anos de aulas em bloquinhos "Castelo"!

Quando entrava na sala dizia Bonjour, mes elèves! e nós tinhamos que nos levantar e dizer Bonjour, Madame. Ela respondia Assiez vous e nós sentávamo-nos dizendo Je m'assie.
Depois vinham o Monsieur e a Madame Dupont, o Robert e a Nicole e o cão Patapouf. Só tinhamos um livro, o «Je commence» que trazia uma máscara para tapar as palavras de modo a olharmos só para as imagens enquanto ouvíamos e repetíamos: Je suis Nicole, Je suis Robert, C'est Papatapouf, Patapouf est un chien. Não tínhamos livro de exercícios (os exercícios eram feitos no caderno) e... aprendíamos!

Voltei a tê-la como professora de português, no 9º ano (a que, por falta de hábito, toda a gente ainda chamava 5º ano). Foi com ela que dei Os Lusíadas (que ela parecia saber de cor) e os contos de Eça de Queirós.

Procurei, anos mais tarde, a Dr.ª Susana (nunca soube o apelido dela). Ouvi dizer que lanchava numa pastelaria da Av. de Madrid e cheguei a passar lá, uma ou duas vezes, por volta das cinco da tarde, para a encontrar. Nunca lhe agradeci. Agradeço agora:
- Obrigada, Setôra Susana.

04 setembro 2008

América Antiga (2)

Em complemento ao post anterior, sugiro a primeira audição moderna da ária Beatissimae Virginis, dos Responsórios da Imaculada Conceição (a 4 vozes e orquestra) de Marcos Portugal, executados a partir dos manuscritos existentes na Área de Música da Biblioteca Nacional de Portugal. O maestro Ricardo Bernardes esteve em Lisboa, este Verão, a consultar e copiar estes manuscritos e a 27 de Agosto já estava em Washington a executar a obra. Um exemplo a seguir!

02 setembro 2008

America Antiga

Recomendo vivamente aos visitantes da Biblioteca de Jacinto o canal Americantiga criado recentemente pelo musicólogo e maestro brasileiro Ricardo Bernardes. Uma oportunidade para ter um primeiro contacto com a música de compositores portugueses e luso-brasileiros da transição do séc. 18 para o séc. 19: Marcos Portugal (Lisboa, 1762 — Rio de Janeiro, 1830), António Leal Moreira (Abrantes, 1758 – Lisboa, 1819) e Pe. José Maurício Nunes Garcia (Rio de Janeiro, 1767 – 1830).
A seu tempo, outros serão incluídos.
As gravações são amadoras mas, neste caso, isso é o menos importante.
A não perder.