Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

09 julho 2013

A síndrome nacional

A causa da maioria dos nossos problemas está na incapacidade de planear, prever problemas e antecipar soluções. Quantas vezes é que todos nós já vimos buracos e roços serem abertos e reabertos em obras terminadas porque não se previu alguma coisa que, depois, se revela necessária? Claro que somos “desenrascados” mas o “desenrasca” (palavra sem tradução em nenhuma outra língua) não é uma qualidade, é uma necessidade que decorre de um defeito. Este é um problema que atravessa gerações, classes sociais e profissões. Está em todo o lado. É como uma síndrome endémica com múltiplos sintomas e causas obscuras. Manifestações desta síndrome são a falta de pontualidade, a burocracia, a corrupção, o esbanjamento de recursos (tantas vezes sem benefício para ninguém), a baixa produtividade, a leviandade e inconsequência das decisões, a irresponsabilidade, o laxismo. Todos nós criticamos estes defeitos e todos achamos que não os temos. E, de facto, não os temos todos. Como as manifestações são múltiplas e ninguém as reúne todas em simultâneo, é sempre possível atribuir ao problema nacional todas as causas que identificamos nos outros sem notar aquela que nos caracteriza. Da culpa enjeitada à auto-comiseração e desta à inveja, aquela palavra com que Camões termina os Lusíadas, vão passos muito curtos.
Não somos mais estúpidos do que os outros, nem mais ignorantes, nem mais perversos. A humanidade é toda feita da mesma matéria-prima e a nossa diversidade genética inviabiliza qualquer explicação dessa natureza. O nosso problema só pode ser de natureza cultural, só pode ser um problema de mentalidade. O que eu não consigo identificar é a origem do problema. Será geográfica? Será climatérica? Será das horas de Sol? Será do catolicismo? De tudo isto ao mesmo tempo? Não sei mas entristece-me. Entristece-me a persistência do problema, a recorrência dos erros, apesar de todos nós sabermos que existem, de todos nós sabermos quais são e de todos nós, pelo menos nas intenções, os combatermos. Somos todos bons, muito bons, a apontar erros. Somos todos péssimos a não os cometer.

Sem comentários: