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03 junho 2015

JOLY BRAGA SANTOS: A PORTUGUESE PORTRAIT

No próximo sábado, dia 6, vai ocorrer em Londres um acontecimento da maior importância para a projecção da cultura portuguesa no mundo: a estreia internacional do Concerto para Piano e Orquestra, op. 52 de Joly Braga Santos.
Já vos contei como estive envolvida, em Janeiro de 2009, no processo de doação do espólio de Joly Braga Santos à Biblioteca Nacional de Portugal e o impacto que teve em mim esse facto, aparentemente rotineiro.

O Concerto para Piano e Orquestra de Joly Braga Santos foi composto em 1973 para ser tocado por Sérgio Varela Cid, pianista português de prestígio mundial, especialmente reconhecido pelo seu virtuosismo. Contudo, o pianista, residente em São Paulo e desaparecido (literalmente) em 1981, nunca chegou a executá-lo.
A estreia em Lisboa deu-se em 1978, no São Luíz, pela grande pianista Helena Sá e Costa e só voltaria a ser tocado em 1999 no Centro Cultural de Belém. Parece que terá sido ainda tocado em Paris mas não tenho informação sobre esta apresentação. Vai ser agora apresentado em Londres, pela jovem e talentosa pianista portuguesa Ana Beatriz Ferreira que, com apenas 23 anos, se abalança, com este concerto, ao maior desafio da sua ainda curta carreira como profissional.

Ana Beatriz Ferreira nasceu em 1991 e iniciou os seus estudos musicais aos sete anos, na Academia de Música de Santa Cecília. Prosseguiu os estudos no Conservatório Nacional e concluíu a licenciatura em piano no Royal College of Music de Londres, cidade onde reside e onde se encontra agora a frequentar o Mestrado. Vencedora de vários prémios e distinções, incluindo o 1º Prémio no Concurso Nacional Maria Christina Pimentel, 1º Prémio no Concurso Lopes Graça e três Mérito e Prémios de Excelência pela Fundação Eugénio de Almeida, estreou-se como solista com a Orquestra Filarmonia das Beiras, em 2012, tocando o Concerto para piano n.º 2 de Shostakovich, e participou em festivais no Centro Cultural de Belém (Main Hall e Sala Amália Rodrigues), Teatro de São Luiz (Jardim de Inverno), Pavilhão de Portugal e Palácio Foz (Sala dos Espelhos) e em recitais na Fundação Eugénio de Almeida e Centro Cultural de São Lourenço.

A partitura que agora vai ser tocada nunca tinha sido publicada o que significa que não estava facilmente acessível a qualquer pianista ou maestro que a desejasse executar. Falei nela à Ana Beatriz Ferreira, há cerca de um ano e o seu interesse por conhecer a obra foi imediato. O manuscrito autógrafo (assinado e datado de Lisboa, 19 de Setembro de 1973) encontra-se depositado - juntamente com o restante espólio do compositor - na Biblioteca Nacional de Portugal, onde a pianista o consultou pela primeira vez. O primeiro contacto com a partitura, realizado no piano digital da Sala de Leitura de Música, permitiu-lhe perceber a extraordinária qualidade da música e a urgência de a dar a conhecer. O próprio Royal College of Music cuidou de adquirir a cópia do manuscrito, a Ava Musical Editions procedeu à publicação da partitura (com edição e revisão técnica da própria Ana Beatriz Ferreira) e agora, graças a esta conjugação de esforços, já é possível adquirir um exemplar para que este magnífico Concerto possa ser apresentado em qualquer parte do mundo.


O espectáculo terá lugar na igreja de St. James's, Picadilly, numa noite dedicada a Joly Braga Santos: na primeira parte serão tocadas em orquestra obras de Schubert e Tchaikovsky, que se sabe terem sido apreciadas pelo compositor português, e a segunda parte incluirá a estreia absoluta de uma composição de Edmund Hartzell completada este ano e inspirada por Braga Santos. A segunda parte terminará com o Concerto para Piano Op. 52.

Eu lá estarei, para ouvir e aplaudir.
É sempre uma emoção indescritível quando a música silenciada nas prateleiras da BNP vem cá para fora gritar que existe e que está viva.