Aviso: na biblioteca de Jacinto não se aplicará o novo Acordo Ortográfico.

28 abril 2016

Como explicar?

Quando uma criança escreve "conselho" em vez de "concelho" explicamos (e ela percebe) que, apesar de soarem da mesma maneira, estas palavras se escrevem de forma diferente porque têm significados diferentes? E a diferença está expressa naquela letra. Se ela for mais crescidinha podemos até explicar alguma coisa sobre etimologia, evolução, etc.
Como explicar a esta mesma criança que "ata" e "acta", apesar de soarem da mesma maneira, têm significados diferentes e a diferença está expressa naquela letra mas neste caso já não interessa nada e podem escrever-se da mesma maneira?
E como explicar a esta mesma criança que "corrector" e "corretor", apesar de não soarem da mesma maneira (a diferença está naquela letra) nem terem o mesmo significado (a diferença também está naquela letra), isso não interessa nada e podem escrever-se da mesma maneira?
E como fazer essa criança acreditar que, apesar de não dizermos coisa com coisa, não somos parvos?

Parece que hoje é o dia do sorriso.

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

(Eugénio de Andrade)

21 abril 2016

Torquato da Luz (1943-2013)

Em 4 de Dezembro de 2012 publiquei um poema, de Torquato da Luz que, na ocasião, exprimia fortemente o que eu estava a sentir. Hoje, quando fazia uma pesquisa sobre o poeta, descobri que ele morreu, apenas três meses depois deste post, a 24 de Março de 2013.

Fiquei triste. Aqui fica a minha homenagem. O mesmo poema que publiquei há três anos e que continua a falar por mim.

Recomeçar

Vontade de partir, de largar tudo,
de acordar amanhã num hotel em Veneza,
de esquecer o passado, o futuro, o mundo
e baralhar as cartas expostas na mesa.
Vontade de zarpar,
de abandonar as mínimas coisas algum dia amadas
e procurar no mapa das estradas
o que teima em faltar.
Vontade de abalar
sem um aceno
sequer de despedida
e de um modo expedito mas sereno
recomeçar a vida.

(Torquato da Luz)